2º Ciclo de debates: Cultura e Sabotagem

O bom rap contamina, atinge a maioria
Vê isso na periferia, pode crer que vira, vira, vira
Arrisca, petisca, è nós na fita!.” — Cachorro Louco no Freestyle, do rapper Sabotage.

Hoje, depois da reunião geral do OcupaRio, foi realizado o encontro da OcupaTeoria, uma iniciativa associada ao GT Teoria.

Na sequência do sucesso do primeiro ciclo de debates “A Constituição do Comum”, com três encontros no IFCS (“Representação”, “Identidade” e “Propriedade”), ao longo de fevereiro e março, e um quarto geralzão na praça da Cinelândia, em 31 de março; a OcupaTeoria lança agora o ciclo “Cultura e Sabotagem“.

O campo da cultura que nos interessa não pode ser pensado e realizado de modo separado à produção política e econômica. Essa força imanente se articula em culturas de resistência, e se diferencia incessantemente ao sistema vigente das maneiras mais disseminadas, transversais, produtivas e potentes, perturbando-o, subvertendo-o. A cultura como resistência não se resume à diversidade e à diversão. Põe em movimento a invenção de imaginários políticos, deslocamentos identitários, febres arte-ativistas, e novas formas de gerar e se relacionar. A cultura que nos interessa deve se manter sempre em estado de fluidez e recriação, evitando as capturas e as reconfigurações interesseiras. É preciso confabular mundos no limiar do existente, produzir subjetividade e colocar em xeque as estratégias de dominação, controle e exploração. Já existe um movimento de sabotagem social permanente, que emerge das ruas, praças e quebradas, dos teatros de rua e dos desvios criativos, das ocupações do real e do virtual, onde tantas pessoas sonham e constroem elas mesmas um novo corpo de desejos e singularidades.  O movimento Occupy também é uma cultura de resistência, de sabotagem e pirateamento do sistema.

Foram definidos os três momentos do novo ciclo, com a presença de movimentos, coletivos, grupos, estudantes, militantes, curiosos, precários, ativistas, ocupantes e todo tipo de indignado desejante, qualquer um que quiser contribuir e debater:

1. Crise, cultura e captura. Os novos movimentos de produção e organização política através da cultura. Crise do capitalismo, crise cultural. Culturas de resistência ao trabalho e à exploração. Resistir é afirmar diferença e produzir diferente. Pré-agendado para a semana do 7 de maio, local a confirmar.

2. Ética hacker. Os novos movimentos de resistência na internet. Hackeamento como forma ampla de ativismo. Resistir é sabotar a lógica dominante. Pré-agendado para a semana do 21 de maio, local a confirmar.

3. Loucu(ltu)ras: a produção do outro. Saúde mental revolucionária. Teatro de rua, estética da fome, esquizoanálise, alteridade radical e macumba brasileira contra a cabeça do colonizado, dentro e fora do Brasil. Produções de subjetividades. Resistir é se tornar o que não se é. Pré-agendado para a semana do 4 de junho, local a confirmar.

Em breve, mais informações. Para participar da organização, basta entrar em contato no grupo aberto do Facebook “OcupaRio – Teoria”, mediante comentário neste post ou via e-mail em ocupario@gmail.com

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Foto: Wagner de Almeida.

Revolução Global – Marcha a Madrid e a Bruxelas

Há pouco, subimos aqui para download a Revista “Rebelem-se”, em espanhol (em breve, versão em português. Tradução em andamento), com experiências e projetos em andamento para uma sociedade autogerida. Iniciativa do coletivo espanhol Afinidad Rebelde, que se encontra desde outubro de 2011.

Agora segue link para vídeo no youtube da Marcha a Madrid e a Bruxelas. Uma experiência mais emotiva e com discursos mais utópicos tão importantes quanto, pois é preciso sonhar e organizar nosso tempo para nos encontrar de fato, cara a cara, compartilhar experiências, ideias, nos conhecer e propor ações.

Para legendar em português, fiquem à vontade:

Senhor: “Este movimento espontâneo e popular, não influenciado por nenhuma organização política, mas oferecendo os impulsos de nosso coração coletivo e nacional, decidimos levar a frente essas marchas de todos os pontos periféricos de Espanha com a intenção de nos juntarmos em Madrid e de mostrar coletivamente nossa repulsa e nossa condenação ao estado de coisas que esse sistema horrível permite a uns sem vergonhas chamados capitalistas lucrem do esforço dos trabalhadores.

Podemos criar nossas próprias leis se todos participamos. Podemos fazer leis justas e democráticas que acabem com a pobreza, que acabe com a extrema pobreza e com a precaridade. Se queremos, podemos. Hoje sonhamos que podemos, caramba, e amanhã podemos com o apoio e ajuda de vocês.”

Mulher: “A partir deste momento e dos próximos dias continuamos a mudar nossa realidade ao compartilhar nossas experiências e idéias. Bem-vindas, bem-vindos, estávamos esperando vocês. Hoje o sol volta a brilhar mais forte que jamais brilhou.”

Cartaz escrito: “Marcha Popular a Bruxelas. Vamos lentamente, pois vamos longe.”

Homem: “A marcha que veio a Madrid não acaba em Madrid. Segue a Bruxelas.”

Revista “Rebelaos” – E você ainda crê que necessitamos do Estado?

Em 15 de março saiu em castelhano a publicação “Rebelaos” (Rebelem-se). Uma publicação on-line feita em colaboração com ferramentas livres 2.0, lançada também impressa com 500.000 cópias financiadas via plataforma de financiamento de multidão (Crowdfunding) e micro-mecenato. Uma iniciativa do coletivo espanhol Afinidade Rebelde, que se reúne desde outubro de 2011.

Logo na capa, a revista traz a provocação que norteia seu conteúdo: “você ainda crê que necessitamos do Estado? Descubra como podemos autogerir nossas vidas!”


Publicación REBELAOS
 Clique para baixar

Indispensável para quem deseja conhecer algumas alternativas que estão se movendo na sombra do espetáculo dos meios de comunicação de massa. Muito além de sonhos ou delírios utópicos, as informações e conteúdos incluídos na publicação são iniciatvas e realidades que já estão em andamento.

Esta publicação linkada está em espanhol. Já editaram também versões em catalão e euskadi (país Basco). Atualmente estão preparando uma versão traduzida para o português.

A revista nos foi enviada por Maty, companheiro que participou do 15M espanhol em Barcelona e do Ocupa Rio Cinelândia entre outubro e novembro de 2011.

Leiam e compartilhem à vontade!

Saúde e boa leitura!

E seguimos … que os caminhos se fazem ao andar.

4º debate Ocupa Teoria, fechando o ciclo e CHAMADO para novo ciclo!

O Ocupa Rio não é um grupo, movimento orgânico ou um coletivo, mas o encontro produtivo de pessoas, coletivos, movimentos e desejos por uma sociedade livre, múltipla, igualitária nos acessos e vozes políticas! Em nosso encontro, o Ocupa Rio acontece!

No sábado 14.04, todos ao vão livre do MAM para reunião aberta de organização do próximo ciclo de debates! A partir das 15:30, tragam suas ideias, observações e sugestões de assuntos, dinâmicas e locais para darmos sequência ao próximo ciclo de Debates Ocupa Teoria!  Nos encontraremos próximo ao chão de pedras, logo após a parte coberta do vão do MAM (aterro do Flamengo).

O primeiro ciclo de debates Ocupa Teoria terminou brilhantemente no sábado 31.03.2012, na praça da Cinelândia, com tarde e noite repletas de atividades. O desafio não era pequeno, visto as experiências do Ocupa Rio em praça aberta e suas dinâmicas peculiares que sempre atravessam a sobriedade dos planejamentos cartesianos. Por isso outros 3 debates com chamado público acesso livre haviam sido concentrados em sala do IFCS, para poder se avançar nos temas e preparar o terreno para o dia na praça. O plano era abrir às 15h com o tema Representação (“Não nos representam”), passando ao tema identidade às 17h e Propriedade às 19h, entretanto, os temas se misturaram e os debates fluíram com franqueza e liberdade a partir de colocações sobre feminismo e questões de gênero. Durante toda a tarde, com alguns intervalos curtos, caminhou-se pelo tema dos Anonymous, identidade, Rio+20, Plenária dos Movimentos Sociais, contradições da noção de P.I.B. verde, mercantilização da natureza, geração de energia, entre outros temas.

A noite terminou com shows e performances ovacionadas do grupo AnarkoFunk, com letras sátiras políticas sobre músicas pop, como “Milícia, milícia, assim você me mata…”, e o aclamado ska-reggae da banda Coquetel Acapulco. Ao fim das bandas, os microfones ficaram aberto para improvisações espontâneas de letras, poesias, e sátiras acompanhadas por jam sessions entre as bandas, batuqueiros improvisados e até um sanfoneiro, estendendo a programação até próximo de meia-noite.

Agora é hora de pensar um novo ciclo, sugerir temas novos, aprofundar questões de temas do primeiro ciclo, mudar ou aperfeiçoar dinâmicas, produzir e lançar publicações coletivas!

Nos vemos no sábado 14.04, às 15:30h, no vão livre do MAM!

CHAMADO PARA O 12M E PARA MANIFESTOS COLABORATIVOS – OCUPARIO

CHAMADO PARA O 12M E PARA MANIFESTOS COLABORATIVOS – OCUPARIO

Em 15 de outubro do ano passado, cerca de 150 pessoas se encontraram na praça da Cinelândia e tomaram a palavra. Haviam respondido ao chamado global por ação direta e democracia real, diante de governos cada vez mais íntimos e submissos às elites dominantes do sistema financeiro, das multinacionais, das grandes redes empresariais, do agronegócio e da indústria das comunicações. No dia 22 de outubro, mais de 500 ocuparam o território. Levantaram-se as barracas e ali ficaram, nas alegrias e nas dificuldades, por mais de 40 dias e noites. Decidiram não mais pedir permissão para fazer política. Decidiram não sentir vergonha de acreditar e trabalhar por um mundo melhor, além das amarras e limites da representação, da identidade e da propriedade. Resolveram não ficar mais esperando, como se a solução caísse do céu ou fosse anunciada por alguma utopia do passado. E, no 12 de Maio próximo, iremos reocupar novos espaços, sejam de terra, asfalto ou digitais. Os caminhos estão abertos e queremos abrir ainda mais os espaços para exercermos a nossa liberdade de constituir os nossos próprios caminhos comuns. Para construirmos um mundo sem os muros, cercamentos e exclusões, impostos para reproduzir os poderes econômicos, financeiros, midiáticos e coercitivos dos poucos sobre os muitos. Recusamos vender os nossos sonhos, desejos e trabalho cooperativo a empresas, marcas e fetiches, e não nos rendemos à sociedade cada vez mais vigilantista, que criminaliza os movimentos, inclusive na internet. Este chamado é aos 99% que, com o próprio suor e trabalho, sustentam a absurda acumulação de riqueza por parte do 1%. É um chamado dos que não se esquecem e sempre voltam para cobrar e construir as transformações aqui e agora.   

Em 2011, milhares de pessoas transitaram no OcupaRio, envolvendo-se em muitas atividades, grupos de trabalho, reuniões, dinâmicas, performances, mídias alternativas, textos, sessões de cinema, de ioga, de pedagogia do oprimido. Na acampada da Cinelândia, os muitos construíram, com indignação e ternura, um novo espaço e um novo tempo, para os sonhos e desejos de uma geração que não se resigna. Declararam-se, logo nos primeiros dias, anticapitalistas e críticos da esfera representativa tradicional. O OcupaRio preencheu-se também dos fluxos da cidade, foi atravessado pela violência cotidiana que as pessoas em situação de rua e os pobres em geral enfrentam . A acampada lidou com as neuroses, paranóias e crises provocadas por políticas públicas repressoras, ineficazes e desiguais. Os ocupantes da Cinelândia investiram as energias, as experiências, as revoltas, as teorias e os poemas; elas somaram-se umas as outras e constituíram, entre si e para todos, um terreno comum de experiências inovadoras.

O OcupaRio foi removido no começo de dezembro, numa madrugada de sábado para domingo. Sem apresentar qualquer decisão judicial, os ocupantes foram covardemente expulsos por uma operação surpresa, conjunta entre choque de ordem (Prefeitura) e polícia militar (Governo do Estado). Vários homens e mulheres foram recolhidos compulsoriamente a abrigos distantes, após o constrangimento de passar por diferentes delegacias. A remoção do OcupaRio não é novidade. No Rio de Janeiro, sucessivas comunidades pobres têm sido removidas para longe, sob o pretexto das obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Esses megaventos têm justificado um estado de exceção contra todos que não se enquadram na concepção de metrópole “globalizada” e elitizada que já está sendo vendida a peso de ouro. Esse modelo de desenvolvimento urbano tem significado uma supervalorização imobiliária, ao mesmo tempo que exclui e expropria os verdadeiros construtores (físicos e simbólicos) da metrópole. Ocupações urbanas têm sofrido no dia a dia o completo desrespeito do direito à moradia e à dignidade, mesmo quando se trata de imóveis desertos há anos (e são milhares), cuja única serventia consiste na especulação que propiciam.

O modelo de desenvolvimento predominante no Brasil também vem destruindo experiências bem sucedidas de viver alternativamente ao sistema, nas comunidades autogestionárias, nos quilombos contemporãneos, nas aldeias ribeirinhas do Xingu e da Amazônia em geral. Também se destroem e, sobretudo, exploram experiências de trabalho informal, dos camelôs, do remix na internet. A remoção da comunidade de Pinheirinho (em São Paulo), que produzia e resistia há sete anos com autonomia, é a culminância dessa política autoritária e desigual. Aqui no Rio é a remoção da Vila Autódromo que se prepara. Em nome da propriedade privada (interesse individual) ou da propriedade pública (interesse geral), o poder de sempre não mede esforços quando está em jogo a manutenção da identidade majoritária e da lógica de guerra contra os pobres que a história do Brasil é tão pródiga.

 Em 2012, dizem que o Brasil já não é mais o país do futuro, mas do presente. Mas que presente é esse? A publicidade dos governos, reproduzida por uma grande imprensa acrítica, não cansa de repetir que vive o melhor momento de sua história. O crescimento econômico aliado à confiança nos “mercados” inspira o orgulho patriótico das elites. Jamais os lucros estiveram tão altos, a especulação imobiliária inflacionou tanto, os bancos faturaram tantos trilhões de reais. Proliferam os oligopólios (públicos ou privados), grupos multinacionais, fundos e mesmo famílias monopolizam enormes fatias dos negócios: petróleo, sistema bancário, redes de supermercados, conglomerados midiáticos, indústrias de cimento, aço, plástico, culturais e de entretenimento… Não importa, quem continua a governar o Brasil são esses componentes da classe dominante, que não hesitam em utilizar as forças do Estado para assegurar a sua dominação política, social, econômica e cultural. Além disso, o crescimento econômico tem sido encarado pelos governantes como meramente quantitativo, importando apenas os números e não uma melhoria qualitativa na vida das pessoas, especialmente daquelas que suportam os custos sociais e ambientais decorrentes. Se houve melhorias na vida da população, ainda é muito pouco em relação à riqueza que vem sendo produzida e distribuída de modo concentrado, desigual e expropriatório. Por debaixo dos números, ufanismos e reportagens acríticas, a violência do Estado e do mercado se dissemina em operações policiais, na militarização do território, na remoção de comunidades, na expulsão de indígenas e quilombolas, e no racismo, machismo e homofobia institucionalizados na sociedade brasileira em todos os seus setores. Esse Brasil desenvolvimentista e que busca ser um país rico não é um Brasil que acaba com a pobreza, é na verdade um Brasil que está acabando com os pobres, os 99%.

Por tudo isso, não acreditamos que a crise esteja distante. A crise que vivemos é diferente, mas é crise. É a crise da desigualdade, da miséria, da opressão de gênero, raça, classe e sexualidade, do desenvolvimentismo. Atrás do muro impermeável da propaganda oficial, uma pessoa sofre os efeitos da crise, e é acuada, e sente medo e se sente sozinha. Estamos com todas essas pessoas! E chamamos para participarem, a se mobilizarem conjuntamente, quando o medo se converte em desejo, a tristeza em alegria, a solidão na organização da revolta. E muitas se revoltam, se organizam como precárias, em Pinheirinho, no Xingu, em Jirau, em Petrolina, em Belo Monte, na internet, junto aos sem terra, sem teto, sem mídia, aos hackers e anonymous, aos sem perspectiva que não vender todo o seu tempo por subempregos e bicos, sob o comando supremo dos donos da propriedade, dos lucros e das rendas “nacionais”. Se os governos vendem o Brasil como o país do futuro, precisamos afirmar que o futuro que queremos é outro. Essas pessoas que não se resignam e não se adaptam ao novo Brasil da TV, crescido porém desigual, centralizado, discriminatório, submetido por elites políticas e financeiras. Essa democracia não é real, em nenhum aspecto imaginável: como processo político, como distribuição da riqueza, como protagonismo cultural e midiático onde cada um e cada agremiação possui condições para uma plena voz ativa. Não é democracia real do ponto de vista das mulheres, dos LGBTT, dos negros, índios, quilombolas, e de todos os pobres em geral, na metrópole e no campo, no centro ou na periferia. A condição de indignação que atravessa o mundo também nos atravessa.

O tipo de política extremamente hierárquica, onde poucos decidem por muitos, e quase sempre em benefício próprio, faz grandes parcelas da população associarem o termo “política” a sentimentos de tédio e desesperança. São formas de se fazer política que não representam a pluralidade das sociedades. Não representam seus desejos e visões de mundo, construídas no dia-a-dia, e, por isso, não representam adequadamente nem mesmo suas demandas. Contra esse tipo de política reacionária, acreditamos que as práticas que dão rumos às sociedades devam ser uma composição de múltiplas ideias, propostas, programas, teorias e demandas…

No dia 12 de Maio de 2012, convidamos você a se juntar ao movimento global e local do Occupy, que se propõe a trabalhar, cooperar e lutar por uma alternativa política ao sistema vigente e suas formas de representação política, desigualdade social, opressão de gênero, sexual e racial, e violência estatal generalizada contra os pobres. Um movimento diversificado, aberto, constituinte, de organização transversal, flexível e cooperativo, articulado com outras lutas e movimentos da cidade, composto de pessoas indignadas, descontentes, revoltadas ou simplesmente desejantes de outro mundo para se viver mais plenamente, um mundo mais igualitário, libertário e conectado.

A diferença entre o possível e o impossível está na coragem da tentativa. Ninguém vai nos repreender por não termos tentado. Porque vamos! Em frente! Estamos nos levantando e falando e se organizando, sem medo da represália, dos reacionários, porque podemos e queremos, porque o nosso tempo histórico é agora e queremos vivê-lo intensamente, queremos fazer acontecer, como muitos no passado fizeram com a coragem e o amor das revoluções, e conquistaram os direitos que desfrutamos, e agora é preciso ir mais além e continuar caminhando. Não estamos satisfeitos com o que está acontecendo com o mundo. Temos idéias diferentes, pluralidade de pensamento, e estamos abertos a quaisquer opiniões. No dia 12 de maio, é só chegar! A casa caiu, levanta a barraca e faz um barraco!

Ocupa Teoria

Rio de Janeiro, 16 de Março de 2012.

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Foto: Rodrigo Torres (OcupaRio)

Esse texto estará aberto para contribuições durante os próximos 15 dias. Para acessá-lo basta entrar em http://ocupario.org/wiki/12m/ e começar a editar. No dia 31 de março  ele será relançado contendo as contribuições realizadas, podendo ser  assim um Manifesto Colaborativo do Ocupa Rio para o 12M. Esse chamado é apenas um chamado entre os muitos, os muitos que já existem e que desejamos que venham a aparecer. Por isso esse chamado não é visto como sendo um ponto de chegada ou de partida e sim como mais uma ação entre as muitas que estão sendo realizadas e que serão realizadas nos próximos tempos. Por isso para além de um chamado para um Manifesto Colaborativo do Ocupa Rio para o 12M, estamos fazendo um chamado para muitos manifestos. Esse é um chamado para que a multiplicidade de visões dos muitos se constituam enquanto muitas. Façamos chamados, façamos manifestos e façamos circular a coragem de nossas perspectivas.

Nos vemos nas  Ruas sejam de asfalto ou de terra!

CHAMADO: Reunião de Organização de Mega-debate em praça pública!

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ATENÇÃO, OCUPANTES!
Sábado agora (dia 17/03), às 16hs no pátio do MAM (parte aberta, mas coberta): Reunião Ocupa Rio – GT Teoria.

Missão: organizar um mega-debate propositivo a céu aberto em praça pública para o final deste mês de março.

A colaboração de todos é a alma da ação!

Será o final do primeiro ciclo Ocupa Teoria. Por enquanto, apenas os temas do debate foram acordados coletivamente: entrecruzamentos entre os 3 debates anteriores do ciclo: Representação, Identidade, Propriedade. Formato e propostas adicionais a serem feitas coletivamente nessa reunião de sábado!

Convidem seus amigos e demais interessados, tragam suas ideias para o mega-debate!

Colabore também com a divulgação e compartilhe este chamado!

Debate sobre Propriedade, IFCS, 13/03/2012

“Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em consequência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado.” (Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels)

Terça 13/mar– 18h – IFCS (sala 107).
Tema: A PROPRIEDADE. “O comum além da propriedade”. Moradia, regularização fundiária, reforma urbana, cultura livre, cultura de resistência, cópia livre, difusão do conhecimento.

DEBATE LIVRE, ABERTO E HORIZONTAL!

Debate sobre Identidade (28/02, IFCS)

“É necessário desconstruir, deslocar e colocar a identidade em suspenso, rejeitando as suas acepções essencialistas, integrais e unificadas, na perspectiva de pensá-la no limite, ou seja, a mesma linha que critica é a que paradoxalmente permite que se continue a pensar com a identidade. E a que vai nos interessar é sempre “provisória”, estratégica e aberta — um campo de possíveis para a produção de si, para a produção da própria vida — e constitui, em sua ressonância política, um dos elementos fundamentais para a compreensão dos incessantes movimentos e permanentes transformações hoje.” (Leonora Corsini)

Terça 28/fev – 18h – IFCS (sala 107).
Tema: A IDENTIDADE. Os pobres constituindo o próprio mundo sem ser erradicados. Lutas de índios, mulheres, negros, LGBT. “Multidão queer”. Antropologia perspectivista e política menor.

DEBATE ABERTO, LIVRE E HORIZONTAL!

Cinco ameaças internas ao Occupy

Por Bruno Cava, trecho extraído do Quadrado dos loucos

(…)

1. Fetiche do Sistema. De fato, o Occupy exprime uma luta contra causas sistêmicas em detrimento de pautas isoladas. Mas não pode ser simplesmente contra o Sistema. Isto é, contra o Complexo Industrial-Militar, o Imperialismo, o Monstro do Capital… ou qualquer outro Moloch indialetizável que impeça chamarmos os inimigos pelo próprio nome. O sistema afinal se constitui da matéria viva das relações sociais, que se desenvolvem em vários planos, macro e micro. As lutas antissistêmicas (sempre no plural) só podem vingar com a multiplicação e a articulação de muitas pautas e frentes que, coordenadas com inteligência, porventura ganhem massa crítica para a mudança global. Essa coordenação prescinde de significado-mestre, de uma ideologia que amarre as lutas nalguma dimensão primária: a economia, a cultura, os direitos humanos, o meio-ambiente. Sucede um paralelismo empoderador, um comum produtivo materializado por lutas por renda, voz política, direitos civis, minoritárias, por sabotagens e reapropriações, por vários focos em coexistência e contágio. Em determinadas situações, algumas pessoas acham que a pauta deve ser A ou B ou C, e ficam disputando sobre prioridades sem perceber como, frequentemente, a pauta potente só pode ser A e B e C, um ABC híbrido.

2. Anti-política. Muitas vezes, as manifestações das acampadas e Ocupas se colocam como apartidárias (“não quero saber de partido”) ou suprapartidárias (“toleramos qualquer partido, mas estamos acima disso”). Não se filiar a partido e não fazer militância partidária e atacar a forma-partido e anular o voto, nada disso implica enfiar todas as forças partidárias no mesmo saco. Empobrece a análise de conjuntura. É comum movimentos bastante partidários se apresentarem como apartidários e sem ideologia. No Brasil, a pauta anticorrupção funciona desse jeito da UDN e Carlos Lacerda até o movimento Cansei e a revista Veja. Por mais que a máquina representativa consista num inimigo a desconstruir-se pelas lutas antissistêmicas, é preciso reconhecer que partidos, mandatários e governos podem agir de muitas formas, podem ser reformistas, conservadores ou simplesmente reacionários (basta ver Pinheirinho). Uma boa estratégia não dispensa atravessar esferas mais institucionalizadas, buscando pontos de acoplamento e contatos esporádicos e pode ser transpartidária.

3. Vanguardismo. A composição das acampadas européias, do Occupy norte-americano e das Ocupas brasileiras é parecida. Um contingente heterogêneo de jovens de 20-30 anos, desempregados, precários, proletarizados, alguns militantes mais antigos, anarquistas, comunistas, social-democratas, socialistas, muitos universitários, secundaristas, alguns professores, um punhado de profissionais liberais, curiosos de toda espécie, gente inadaptada, punks, neo-hippies e também, num segundo momento, uma enxurrada de gente em situação de rua, sob condição mental tensa e usuários de drogas ilícitas de rua. Esse conjunto ou parte dele não pode se ver como vanguarda da revolução. Como o front das lutas sociais, superior e mais avançado que outros grupos organizados. A comunalização do espaço e a sua tomada pelos fluxos urbanos exprimem, sim, força transformadora. Porém, ainda assim, não se imagine vá formar comitês revolucionários para dar a linha. Mesmo porque a revolução não é desse jeito: um dois três e já. No Brasil, não se pode perder de vista a perspectiva dos pobres, esses que já constituem outro mundo na precariedade, formulam discursos, culturas e poéticas de resistência, produzem, desejam e sabem como ninguém como chamar os inimigos pelo próprio nome. Sem romantismos, pobreza não é só privação e sofrimento, mas potência.

Na feliz síntese de Hugo Albuquerque, no Descurvo: “A favela é o locus definitivo de resistência daqueles que foram largados para morrer ao relento, é processo de luta, portanto, sua própria existência – e sua re-existência – é positividade pura. O antropofágico Pinheirinho, mais ainda. Derrota é a resignação, é sentar-se e aceitar morrer, nada disso aconteceu.

4. Populismo anti-financeiro. O Occupy disparou em Wall Street. Isto não significa que tome por alvo primário o capitalismo financeiro e não o capitalismo como um todo. Quando alguns discursos separam economia real de especulação financista, parece que estão absolvendo a economia real. Como se não houvesse patrões, exploração do trabalho, precarização das pessoas e danos socioambientais causados pela dita “economia real”. Essa culpabilização da ganância e dos banqueiros rapidamente capturada pelas ondas de resgate de valores, da moral do bom trabalhador, do bom patrão e do bom capitalismo. Tradicionalistas puros como as paisagens de John Ford contra os yuppies e magnatas decadentes de Nova Iorque. Nos EUA, essa vibe conduz ao Tea Party, na releitura da história dos EUA como a progressiva contaminação da mensagem originária dos founding fathers pelos grandes bancos e investidores. Pior, nessa simplificação antifinanceira habita certo antissemitismo, tanto na velha acusação da conspiração judaica (Plano Cohen, Dreyfus, nazismo), quanto na rápida sinonímia entre banqueiros e judeus. Kill the bank vira kill the jew. É preciso criticar a financeirização da vida, mas não como perversão do bom capitalismo liberal, mas como modo de regulação da produção capitalista. O Occupy se propõe a construção de um novo mundo, jamais o regresso nostálgico ao velho.

5. Somos todos Um. O fetiche da comunhão universal, da Gemeinschaft. Significa recusar a divisão social como horizonte da organização e mobilização. Essa divisão de classe tão bem marcada pelo slogan dos 99% contra o 1%. Em vez disso, os unitaristas assumem que o Occupy é uma frente para os 100%, que todos podem se beneficiar e fazer parte. Esse universalismo moraliza as discussões e questões políticas, em nome da humanidade do homem, do bom selvagem maculado pela civilização capitalista. E despotencializa na medida em que impede de enxergar, logo, de combater as divisões, os cercamentos, as ilhas de confortos e as opressões violentas, os mecanismos da representação, enfim, toda a economia política autorreplicante que forja a escassez e organiza a falta, concentrando renda e propriedade. Essa vontade de comunhão não só termina por edulcorar as lutas sociais, como está bem afinada à compreensão de política da classe média liberal, para quem basta a conversa, a disposição ao diálogo e o discernimento para, no tempo certo, se chegar a consenso sobre praticamente tudo.

E está atrelado a certa terapeutização do movimento social. Onde afetos e sentimentos, melodramas, delicadezas e chororôs se sobrepõem à necessidade de enfrentamento e dissenso, — própria de qualquer ação política transformadora. Essa seria uma política afetiva mais adequada para o facebook e a televisão, onde o mundo se passa em família num processo de privatização do público. Certamente não para a contingência áspera das lutas reais, na conjunção paradoxal de entusiasmo e melancolia, ternura e brutalidade, que acompanha a militância.

Outra frente do “somos todos um” se dá com o digitalismo, que é a teoria e prática das redes levada à ideologia. A percepção de que não há dois lados quando se trata da difusão da informação (no rivals!), que o desenvolvimento das redes pode, por si mesmo, resolver os conflitos, problemas e dilemas sociais. A  sociedade estaria evoluindo em direção à democracia internética dos peers to peers. Uma nova humanidade se descortina, conectada e quântica. Nega-se o antagonismo como primado político, bem como quaisquer divisões formuladas em termos de esquerda e direita. Contornam-se as assimetrias e parasitismos por dentro da web 2.0, povoada de consultores e empresários malandros disfarçados de commons criativos. Assim, a democracia se resolve num algoritmo importado do software para as instituições políticas, num antropológico culto ao código. É o bom selvagem dos hypes criativos e das redes horizontais: no politics please, networks only. A comunhão universal reaparece como mais uma utopia tecnológica, como, outrora, pregavam os profetas das ferrovias e eletricidade (século 19) e os do rádio e televisão (século 20).

Portanto, o slogan 99% contra 1% não poderia ser mais oportuno. Destaca como não existe a Sociedade ou a Humanidade, esse bloco moralmente homogêneo que mereceria que todos nós nos juntássemos e, num consenso irrestrito, passássemos a defender para o bem de todos, sem exceção. Como dizia Mao, o Um tem que se fazer Dois, uma injunção fundamental que precisa ser repetida incansavelmente nas dinâmicas no movimento Occupy.